Além dos riscos inerentes a um procedimento cirúrgico e anestésico, uma das grandes preocupações de quem passará por uma cirurgia é como será o processo de cicatrização e a aparência final da cicatriz. Na prática, o resultado final da cicatrização dependerá de como o cirurgião fez o fechamento (técnicas de sutura, tipos de fios, cola cirúrgica etc), como foram os cuidados do paciente em pós- operatório (repouso, cuidados posturais, cuidados locais nas trocas de curativos e banhos, uso da cinta etc) e em grande parcela dependerá de como o organismo reage ao processo como um todo, ou seja, o componente genético relacionado à cicatrização.
Uma cicatriz, apesar de poder melhorar muito com o tempo, é definitiva, causada por uma incisão cirúrgica na pele, seguida de processo de fechamento por sutura. A diferença é a sua qualidade, que pode ser quase imperceptível, delicada, fina e clara; ou uma cicatriz mais elevada ou alargada, escurecida, e que pode até mesmo comprometer o resultado final da cirurgia.
Um cuidado pós-operatório inadequado, forçar a área de cicatrização de forma precoce, pode além de gerar uma cicatriz inestética, causar aberturas e deiscências, atrasando a recuperação e retorno ao trabalho.
Os pontos realizados na cirurgia unem as diversas camadas da pele, que foram abertas para o procedimento. Os que são realizados com fios não absorvíveis, na camada mais superficial da pele, precisam passar pelo tempo necessário até serem retirados, pelo próprio cirurgião. Mas os fios absorvíveis são naturalmente decompostos e eliminados, ao longo da cicatrização, em geral dentro do período de 3 meses, não havendo a necessidade de sua retirada no consultório.
Existe também o uso das colas cirúrgicas de pele, utilizadas bastante nas cirurgias que envolvam retirada de pele: abdominal (Abdominoplastias), ou mamária (as Mastopexias ou Mamoplastias de Redução) .
Como os cortes são feitos em camadas de pele, gordura subcutânea e eventualmente músculo, são feitos pontos mais firmes, nessas diferentes camadas teciduais mais profundas, e mais delicados, com fios mais finos e absorvíveis, nas camadas mais externas, até a última camada, dos pontos intradérmicos, sem ficar nenhum ponto externo na pele, e aí sim, por cima dessa última camada, no lugar de se fazer um curativo simples, pode-se utilizar alguma das colas cirúrgicas, com o objetivo de reforçar o fechamento, tirar a tensão da pele, dando também conforto ao paciente, nos cuidados pós-operatórios, pela não necessidade de trocas de curativos.
Existem diferentes tipos de cola cirúrgica, desde tipos mais leves, que vão saindo sozinhas conforme o tempo, até colas associadas e fitas de ativação e retenção da cola sobre a cicatriz, com maior força tênsil, necessitando uma retirada mecânica, após período de 15 dias a 1 mês.
Para garantir a melhor cicatrização possível, dos pontos cirúrgicos, o paciente deve tomar bastante cuidado como qualquer tipo de atividade que possa forçar a área operada.
Quem fez cirurgia plástica mamária, precisa evitar qualquer sobrecarga dos braços, excesso de amplitude dos movimentos na região (como lavar os próprios cabelos), e até mesmo bolsas, malas ou mochilas penduradas nos ombros, crianças no colo e sacolas para não abrir os pontos (Deiscência) ou prejudicar a cicatrização, gerando uma cicatriz inestética.
Na abdominoplastia, o paciente precisa andar curvado por um período (em torno de 2-3 semanas mas variando pouco caso a caso), para não esticar a região até que esteja totalmente cicatrizada e com uma evolução favorável. Caso ande ou deite de forma esticada precocemente, forçará a cicatriz e poderá trazer não só complicações como provocar dor, drenagem de secreções, deiscências, atraso no processo de recuperação e retorno ao trabalho e atividades; até prejudicar o resultado da cirurgia, necessitando de um futuro reparo/retoque de cicatriz.
O Processo de cicatrização adequado seria uma cicatriz final clara e plana na região. Mas quando há um desenvolvimento anormal dessa, pode ser identificada como uma Cicatriz Hipertrófica ou ainda um Quelóide. Ambas causam uma cicatriz inestética, desproporcional e com relevo, que necessitam de tratamento.
O Quelóide deixa a cicatriz endurecida e avermelhada, muitas vezes com coceira e sensível, podendo se propagar para além da região da cicatriz original e aumentar o seu efeito grosseiro. No caso da Cicatriz Hipertrófica, elatambém fica mais elevada que o desejado, em alto-relevo. E em tons avermelhados. A Cicatriz Hipertrófica há a possibilidade de retroceder com o tempo e voltar a uma cicatriz normal ou próxima do normal, já o Queloide só tende a evoluir com o tempo, necessitando de um tratamento em geral mais incisivo.
Para controlar o processo do Quelóide, pode ser realizado a injeção de corticoide intra-cicatricial, uso de gel de silicone sobre a cicatriz, e depois de estabilizado, pode precisar de uma remoção cirúrgica seguida de aplicação da chamada Beta-terapia, em clínica especializada, em geral por alguns dias sequenciais, para prevenir a recidiva.
Para qualquer procedimento cirúrgico o ferimento precisa estar sempre limpo, seco e coberto, livre de qualquer sujidade ou contato com animais de estimação, para não se ter infecções. Sinais de um infecção de ferida cirúrgica seriam: vermelhidão e calor locais, dor, inchaço e por vezes, drenagem de secreção pelo local. Visando uma cicatrização eficaz, o ferimento precisa estar com curativo bem feito ou com Cola cirúrgica e protegido por cima, com bandagens cirúrgicas de algodão, para evitar o contágio de microrganismos e sujeiras. Para lavá-la, usa-se sabonete líquido neutro e água corrente, não muito quente.
O resultado positivo de uma cirurgia não é definido quando o paciente tem alta, mas sim após sua recuperação plena do procedimento, o que inclui a cicatrização dos pontos, algo bastante demorado. Cada tipo de cirurgia possui cuidados pós- operatórios específicos, mas alguns procedimentos são padrões para que o resultado final da cirurgia seja positivo.
Deixar de fazer algum cuidado orientado pelo médico ou agir de forma relapsa pode reverter uma cirurgia bem-sucedida e causar atraso e dificuldade no processo de cicatrização. Seu sucesso tem a ver com três pilares que precisam estar em harmonia: cuidados locais/posturais (para não tensionar o local da cicatriz precocemente), repouso e alimentação.
As primeiras semanas após a cirurgia são as mais críticas e tudo depende também do local do corpo onde ela foi realizada e a extensão do procedimento. Com a evolução favorável, cicatrização adequada, pode-se gradualmente recebendo as liberações médicas para retorno às atividades específicas, tempo a tempo.